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O Papa: as religiões estão a serviço da paz e da fraternidade

"A partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio", disse Francisco.

Por: Mariangela Jaguraba - Vatican News



O Papa Francisco participou do encontro de Oração pela Paz no Espírito de Assis, na tarde desta terça-feira (20/10), na Praça do Capitólio, no centro de Roma.


O evento, intitulado “Ninguém se salva sozinho - Paz e Fraternidade”, foi promovido pela Comunidade de Santo Egídio que anualmente celebra, de cidade em cidade, esta iniciativa de oração e diálogo em prol da paz, entre os fiéis de várias religiões, a fim de recordar o encontro convocado por São João Paulo II, em 1986, em Assis.


Em seu discurso, o Santo Padre manifestou alegria e gratidão a Deus por este momento de oração e pela presença do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I. “Muito aprecio o fato de que ele e outras personalidades, não obstante as dificuldades de viajar, tenham querido participar deste encontro de oração”, disse Francisco.


Diversidade de religião não justifica a indiferença

Recordando o encontro em Assis, o Papa sublinhou que “naquela visão de paz, havia uma semente profética que, graças a Deus, foi amadurecendo, passo a passo, com encontros inéditos, iniciativas de pacificação, novos pensamentos de fraternidade. Com efeito, olhando para trás, ao mesmo tempo que nos deparamos infelizmente, nos anos passados, com fatos dolorosos como conflitos, terrorismo ou radicalismo, às vezes em nome da religião, temos também de reconhecer os passos frutuosos no diálogo entre as religiões. É um sinal de esperança que nos incita a trabalhar juntos como irmãos. Assim, chegamos ao importante Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, que assinei com o Grande Imame de al-Azhar, Ahmed al-Tayyeb, em 2019”.


Citando um trecho de sua Encíclica “Fratelli tutti”, Francisco disse que «o mandamento da paz está inscrito nas profundezas das tradições religiosas». A seguir, acrescentou:

Os fiéis compreenderam que a diversidade de religião não justifica a indiferença nem a inimizade. Antes pelo contrário, a partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio.


“As religiões estão a serviço da paz e da fraternidade. Por isso, este encontro impele os líderes religiosos e todos os fiéis a rezarem insistentemente pela paz, não se resignarem jamais com a guerra e agirem mediante a força suave da fé para pôr fim aos conflitos.”

A paz é a prioridade de qualquer política

“Hoje, o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza”, disse ainda o Papa. Segundo ele, “o mundo, a política, a opinião pública correm o risco de habituar-se ao mal da guerra, como companheira natural da história dos povos”. Francisco convidou a tocar a carne daqueles que pagam as consequências, a prestar atenção aos prófugos, aos que sofreram radiações atômicas ou ataques químicos, às mulheres que perderam os filhos, às crianças mutiladas ou privadas de sua infância. O Pontífice recordou que “hoje, as tribulações da guerra são agravadas também pela pandemia de coronavírus e pela impossibilidade, em muitos países, de se ter acesso aos tratamentos necessários”.

Entretanto os conflitos continuam e, com eles, o sofrimento e a morte. Pôr fim à guerra é dever inadiável de todos os responsáveis políticos perante Deus.

“A paz é a prioridade de qualquer política. Deus pedirá contas a quem não procurou a paz ou fomentou tensões e conflitos, de todos os dias, meses, anos de guerra que assolaram os povos.”

“Basta! É uma resposta inequívoca a toda violência”, disse o Papa, recordando o “basta” que Jesus disse aos discípulos quando eles lhe mostraram duas espadas antes da Paixão. Aquele “basta” de Jesus   “atravessa os séculos e chega, forte, até nós hoje: basta com as espadas, as armas, a violência e a guerra”!


Nenhum grupo social pode alcançar, sozinho, a paz

O Pontífice recordou que, em 1965, nas Nações Unidas, São Paulo VI deu eco a este apelo quando afirmou: «Nunca mais a guerra!». Esta é a súplica de todos nós, dos homens e mulheres de boa vontade. É o sonho de todos aqueles que buscam e são artesãos da paz, cientes de que «toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou».


Nenhum povo, nenhum grupo social pode alcançar, sozinho, a paz, o bem, a segurança e a felicidade. Ninguém. A lição da pandemia atual, se quisermos ser honestos, é «a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Recordamo-nos de que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvar-nos juntos».

“A fraternidade, que brota da consciência de sermos uma única humanidade, deve penetrar na vida dos povos, nas comunidades, no íntimo dos governantes, nos foros internacionais. Estamos juntos, nesta tarde, como pessoas de diferentes tradições religiosas, para comunicar uma mensagem de paz. Isto mostra claramente que as religiões não querem a guerra; pelo contrário, desmentem quem sacraliza a violência, pedem a todos que rezem pela reconciliação e atuem para que a fraternidade abra novas sendas de esperança”, concluiu o Papa. 

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