Por: Seminarista Luís Alberto Torres em ArqRio
No dia 31 de agosto, o Seminário Arquidiocesano de São José começou a promover os encontros presenciais dos seminaristas em seus respectivos vicariatos de origem. Esta iniciativa surgiu com o intuito de incentivar a vivência fraterna dos vocacionados, uma vez que desde o início da pandemia da Covid-19 o seminário se encontra fechado.
A vivência fraterna é uma das principais características que compõem o processo formativo de um candidato ao ministério sacerdotal. Como uma verdadeira comunidade de discípulos, o seminário é o lugar onde o futuro padre aprende o valor da partilha, da doação mútua e da oferta em favor dos irmãos, além de ser um espaço propício para a escuta da Palavra de Deus, para a vivência dos sacramentos e, sobretudo, para aprender a viver como Cristo, ouvindo de perto Seus ensinamentos e aprendendo a seguir Seus passos.
O documento “O Dom da Vocação Presbiteral”, que apresenta as novas diretrizes para a formação sacerdotal na Igreja, reafirma a importância da vivência fraterna, mostrando que para a formação de um sacerdote o senso de comunhão gerado a partir da experiência comunitária é fundamental no exercício do futuro ministério: “A vida comunitária durante os anos da formação inicial deve marcar cada indivíduo, purificando-lhe as intenções e transformando-lhe a conduta com vista a uma progressiva conformação a Cristo. Cotidianamente, a formação vai-se cumprindo através das relações interpessoais, dos momentos de partilha e de confronto, que concorrem para o crescimento “daquele húmus humano”, onde concretamente amadurece uma vocação. A experiência da vida comunitária é um elemento precioso e iniludível na formação daqueles que serão chamados, no futuro, a exercer uma verdadeira paternidade espiritual nas comunidades a eles confiadas. Cada candidato que se prepara ao ministério deve sentir cada vez mais profundamente o desejo pela comunhão”.
Todavia, por conta da pandemia da Covid-19, a maior parte dos seminários no Brasil e em todo mundo precisaram fechar as portas e encaminhar os seminaristas às suas casas, a fim de que os formandos tivessem sua integridade física conservada. Esta necessária medida afetou diretamente o planejamento das atividades presenciais e o convívio habitual dos seminaristas, uma vez que todos tiveram que retornar às suas residências. Com isso, a equipe formativa precisou encontrar maneiras de estar próxima aos vocacionados, e neste contexto, a internet auxiliou muitíssimo o acompanhamento remoto dos seminaristas através das mídias digitais e, por isso, o seminário pôde continuar a oferecer aos seminaristas as aulas, retiros, direção espiritual e formações.
Neste segundo semestre, com o retorno gradativo às paróquias, o seminário encontrou uma solução criativa para aproximar novamente os seminaristas e tornar possível, ao menos por algumas horas, a convivência fraterna. A atividade proposta pelo seminário é o encontro presencial dos seminaristas em seus vicariatos de origem. Os encontros ocorrem em uma paróquia por vicariato, que reúne a cada segunda-feira os formandos residentes daquela região. O principal objetivo destes encontros é fomentar a vivência fraterna e a partilha, além de matar as saudades dos companheiros de caminhada. A cada mês, um dos formadores visita aquela paróquia e acompanha os momentos de conversa e oração, e também celebra a Santa Missa para os presentes, sempre respeitando as medidas necessárias para o controle da pandemia. Os encontros acontecem nas respectivas paróquias: Paróquia Nossa Senhora da Cabeça - Penha (Vicariato Leopoldina), Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Santa Cruz e Paróquia Sant’Anna - Campo Grande (Vicariato Santa Cruz), Paróquia São Marcos - Barra (Vicariato Jacarepaguá), Paróquia São Lourenço - Bangu (Vicariato Oeste), Paróquia São Benedito - Pilares (Vicariato Suburbano) e Seminário São José (que reúne os seminaristas provenientes dos vicariatos Sul, Norte e Urbano).
Para o seminarista Talles Faleiro, do 1º ano de configuração, participar do encontro presencial é um sinal de esperança em meio a este tempo tão difícil: “Após um período doloroso de afastamento das atividades religiosas, aos poucos e com muita cautela a Igreja vai retomando suas atividades essenciais. E com o seminário não foi diferente: após o encerramento de boa parte das atividades presenciais, os seminaristas voltaram para suas casas e de lá puderam experimentar com a Igreja a dor que esta pandemia causou a tantas pessoas. Foram meses difíceis para todos, e a esperança se viu muitas vezes tentada. Confesso que ao ler o decreto do cardeal convidando os fiéis a voltarem à casa do Senhor, meus olhos encheram-se de lágrimas e junto à abertura das igrejas também nosso coração foi aberto pela alegria. Após alguns meses afastados de nossas atividades, também nosso seminário desejou voltar. Como ainda não é possível voltarmos à normalidade a qual estávamos acostumados, é momento de repensar um ‘novo normal’. Neste sentido, desde a última segunda feira começamos a realizar um pequeno encontro semanal entre seminaristas e formadores, divididos pelos seus respectivos vicariatos. Pode parecer algo muito simples, e de fato é, mas com um valor espiritual incrível. A Igreja é comunidade de Fé que se realiza no encontro de irmãos ao redor do Cristo. Estar novamente unidos em oração e em partilha de vida, é momento de reabastecer as forças, de se fortalecer através do testemunho de vida do outro, momento de compadecer-se, de olhar para o lado e perceber que a Cristo permanece conosco através do irmão”.
Já para o seminarista Carlos Ébano, do 2º ano de configuração, o encontro é a oportunidade de estender o seminário às paróquias, mostrando um pouco da alegria de responder ao chamado de Deus: “Sou de origem da Paróquia São Lourenço, e tive a alegria de estar aqui com parte dos irmãos do seminário. Esta é uma alegria especial, pois neste local pude formar a minha identidade cristã até o ingresso no seminário. Nesta quarentena, nossa casa se tornou um pouco o seminário e, hoje, de algum modo, tantas paróquias se tornam uma extensão do seminário. Como foi belo partilhar da alegria do seminário com tantos membros da comunidade paroquial que receberam com imenso carinho e a alegria a comunidade formativa e meus irmãos seminaristas”. Segundo o seminarista Juan Bittencourt, do 2º de discipulado, o encontro foi, sobretudo, uma oportunidade de dividir com os irmãos os desafios vivenciados durante o isolamento da pandemia: “Foi um momento importante para reencontrar os irmãos, onde pudemos partilhar sobre este período de quarentena, no qual ficamos sem a celebração dos sacramentos, que foram momentos deveras desafiadores para todos. Cada um de nós pode expor suas dificuldades e também os meios para bem vivermos esta nova realidade”.
Saudades da querida Paróquia Nossa Senhora da Cabeça. Foto muito bonita! Deus abençoe está turma de seminaristas com perseverança e alegria.